"The only thing necessary for the triumph of evil is for good men to do nothing." - Edmund Burke
Os recentes anúncios de saída de BlackRock, Goldman Sachs, J.P. Morgan, Morgan Stanley, Bank of America, Citibank e Wells Fargo de seus compromissos climáticos, feitos às vésperas da posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, representam uma confirmação eloquente de que esses compromissos jamais foram sérios. Sob o pretexto de ajustes práticos e realinhamentos de estratégia, o que testemunhamos é um movimento profundamente oportunista, que reflete mais sobre os interesses de curto prazo dessas instituições do que sobre qualquer compromisso autêntico com a sustentabilidade.
A BlackRock, por sua posição de destaque no setor e por sua história recente de defesa da incorporação dos riscos climáticos em decisões financeiras, merece uma atenção especial. Durante anos, a empresa liderou uma narrativa global que posicionava a crise climática como uma questão central para a preservação do valor de longo prazo. Cartas anuais de seu CEO, Larry Fink, tornaram-se um evento aguardado no calendário financeiro, onde se reafirmava a relevância de uma transição para uma economia de baixo carbono. Essa postura estabeleceu um padrão de conduta para o setor, bem como incentivou outras instituições a assumirem compromissos semelhantes. Agora, com a decisão de recuar, a BlackRock enfraquece o ecossistema de cooperação que ajudou a construir.
O comportamento coletivo dessas instituições expõe um fato preocupante: a utilização da agenda climática como ferramenta de conveniência política e mercadológica. Durante o período em que governos progressistas e a opinião pública pressionaram por ações concretas, comprometer-se com a sustentabilidade era visto como uma vantagem competitiva. Agora, com o retorno de um discurso político hostil à agenda ambiental, essas mesmas instituições adotam um movimento de retração, indicando que seus compromissos eram superficiais desde o início.
Mais grave ainda é o impacto fiduciário dessa decisão. Incorporar os riscos climáticos à análise financeira não é uma questão de preferência ideológica, mas uma obrigação de boa governança. As mudanças climáticas impactam profundamente as finanças. Os riscos físicos incluem o comprometimento de cadeias de suprimento e desvalorização de ativos imobiliários, por exemplo. Já os riscos de transição incluem a reprecificação de ativos diante de regulações mais rigorosas, avanços tecnológicos disruptivos e mudanças no comportamento do consumidor, que podem tornar modelos de negócios obsoletos e causar perdas irreversíveis de valor para empresas despreparadas. Negligenciar esses fatores equivale a falhar no dever de proteger os interesses de longo prazo dos investidores.
Portanto, se essas instituições nunca compreenderam as implicações reais da crise climática, sua entrada em compromissos climáticos foi ilegítima, marcada por uma busca oportunista por validação pública. Se, por outro lado, compreenderam e ainda assim decidiram recuar, isso representa uma falha ética mais profunda: priorizaram interesses de curto prazo ou alinhamentos políticos ao invés de agir no melhor interesse de seus clientes.
O abandono desses compromissos também gera consequências sistêmicas. Durante anos, foi construído um consenso de que riscos climáticos e finanças são inseparáveis. Esse entendimento foi resultado de evidências concretas apresentadas por relatórios do Banco Mundial, do IPCC e de inúmeras instituições financeiras. Ignorar essas evidências agora equivale a reescrever as regras do mercado para acomodar interesses particulares, em detrimento de um destino que se mostrava inexorável.
A questão climática transcende ciclos políticos e exige uma visão de liderança que compreenda sua inevitabilidade. Ao abandonarem seus compromissos, essas instituições sinalizam uma miopia perigosa. No entanto, o mercado é resiliente, e novos atores surgirão para ocupar o espaço deixado por aqueles que, mesmo sem nunca terem realmente entrado, escolheram partir.