As DFIs (do inglês Development Finance Institutions ou Instituições Financeiras de Desenvolvimento) representam um pilar fundamental na engrenagem que impulsiona avanços socioambientais significativos, desempenhando um papel particularmente vital em países emergentes como o Brasil.
Distintas dos bancos comerciais, cuja missão primordial se concentra frequentemente na maximização de lucros para seus acionistas, as DFIs são movidas por uma missão nobre: fomentar o desenvolvimento econômico e progresso, enquanto simultaneamente mitigam riscos financeiros e promovem a inclusão social.
Em um país marcado por profundos contrastes como o Brasil, alocar capital de maneira a gerar impacto positivo tangível respeitando os limites ecológicos do nosso planeta e com uma visão de longo prazo, torna-se uma iniciativa tão essencial quanto urgente.
Nesse contexto, o capital catalítico se destaca como uma ferramenta poderosa nas mãos das DFIs pois possibilita a mobilização de recursos financeiros suplementares, atraindo investimentos do setor privado para setores críticos para o desenvolvimento sustentável, que muitas vezes são ignorados pelo mercado devido a percepções de riscos elevados ou retornos menos atraentes.
Um mecanismo em ascensão no Brasil é o do "Blended Finance", que integra recursos filantrópicos a investimentos privados para criar instrumentos financeiros inovadores. Estes instrumentos minimizam riscos e elevam o apelo para investidores tradicionais, incentivando-os a direcionar recursos para iniciativas de alto impacto positivo.
Ademais, muitos fundos de pensão globais reconhecem que seu mandato vai além de assegurar o futuro financeiro de seus beneficiários; é igualmente crucial investir de maneira responsável e ética, direcionando recursos para assegurar um futuro digno além do financeiro. Este entendimento reflete uma mudança paradigmática na gestão de ativos, alinhando retornos financeiros com impacto social e ambiental.
Algumas das principais DFIs internacionais tem forte presença no Brasil, tais como IFC, BID, DFC, CAF, entre outras. No Brasil, instituições proeminentes como o BNDES, além de diversos bancos de desenvolvimento estaduais e regionais, como o BDMG, Desenvolve-SP e BRDE, têm desempenhado um papel fundamental na promoção de um desenvolvimento mais sustentável.
Recentemente, o BNDES revitalizou sua agenda verde e optou por expandir sua atuação, sinalizando um compromisso renovado com o desenvolvimento sustentável, uma estratégia não apenas prudente, mas imperativa para o futuro.
No entanto, apesar desses avanços, o mercado de investimentos sustentáveis no Brasil ainda está em sua infância. Investimentos de impacto e fundos de ações ESG representam uma fração mínima do total da indústria de investimentos, evidenciando uma lacuna significativa que precisa ser preenchida.
Neste cenário, as DFIs, juntamente com grandes fundos de pensão nacionais, têm um papel crucial a desempenhar, devendo transcender a esfera da economia real e reconhecer que um mercado de capitais mais responsável, justo e ético é vital para direcionar recursos que financiem o desenvolvimento sustentável, induzindo uma responsabilidade que também cabe ao setor privado.
No ano passado, o BNDES deu um bom exemplo de como isso pode ser articulado. Em seu edital para seleção de gestores para fundos de Capital Semente e Venture Capital, o banco incluiu importantes critérios no processo seletivo, tais como diversidade da equipe de gestão, expertise ESG e mensuração de indicadores socioambientais.
Além disso, a colaboração entre DFIs e organizações internacionais é essencial, trazendo melhores práticas globais e recursos adicionais para o Brasil. Parcerias estratégicas, como aquelas com o Banco Mundial, amplificam o impacto das DFIs, facilitando a implementação de projetos ambiciosos que têm o potencial de transformar setores inteiros da economia e da sociedade.
Apesar das críticas de setores mais conservadores do mercado, que veem as DFIs como entidades que não maximizam seus resultados financeiros, é crucial reconhecer que a visão dessas instituições vai além do lucro imediato. Elas estão comprometidas com o desenvolvimento de longo prazo, a inclusão social e a sustentabilidade, desempenhando um papel indispensável na construção de um futuro mais verde e justo. Tais críticas são herança de uma cultura atrasada e pouco focada no coletivo, contrastando com o papel fundamental das DFIs.
A prática das DFIs age como catalisadora de mudanças positivas no tecido socioeconômico brasileiro. O Brasil, com sua rica diversidade, mas grandes desafios, oferece um terreno fértil para que as DFIs demonstrem o poder do capital voltado para o bem comum.
É impossível não lembrar das icônicas palavras de Elis Regina: "A esperança equilibrista sabe que o show de todo artista tem que continuar". As DFIs, em sua missão equilibrista de harmonizar o desenvolvimento econômico com a sustentabilidade e inclusão, tem a missão de manter o show em andamento, guiando o Brasil por uma trajetória de progresso econômico de forma inclusiva e sustentável.
Nesta construção de um novo paradigma para o desenvolvimento, desenha-se os contornos de um futuro em que o bem-estar coletivo é indissociável do crescimento econômico.
artigo originalmente publicado na Época NEGÓCIOS em 7/fev/2024 - https://epocanegocios.globo.com/colunas/investir-para-transformar/coluna/2024/02/arquitetos-de-um-futuro-verde-e-justo.ghtml
DFIS, fundamentais, essenciais.