Previsões (presunçosas) ESG 2024
Aí vão minhas previsões ESG para 2024, com um toque de ousadia e uma pitada de desafio. Sem medo de explorar o desconhecido, trago insights baseados em minhas experiências e observações.
Estou aqui para instigar você a discordar, questionar e discutir. Afinal, se as previsões não servem como catalisadores para debates qualificados, qual é o verdadeiro propósito delas? Vamos juntos explorar o que o ano pode reservar para nós no horizonte da interseção entre finanças, sustentabilidade, responsabilidade social e governança corporativa.
Agro menos Ogro: Frequentemente estigmatizado como vilão devido à sua significativa contribuição para as emissões de gases de efeito estufa, o setor agrícola tem enfrentado críticas severas de ambientalistas. No entanto, 2024 trará um início (pontual) de mudança de perspectiva: alguns exemplos responsáveis dentro do agronegócio começarão a ganhar reconhecimento. Esses exemplos serão valorizados não apenas por ambientalistas, mas também servirão de modelo para o próprio setor, demonstrando como a sustentabilidade pode ser integrada com sucesso às práticas agrícolas.
Biodiversidade no Vocabulário do Mercado: Embora mais para o final do ano, a COP da Biodiversidade, na Colômbia, marcará um momento crucial. A conferência acontecerá quando as atenções já estarão voltadas para a COP de Belém (2025) e será um ponto de virada para integrar a biodiversidade nas discussões. Sim, há vida além do carbono.
ESG ainda mais Polarizado: Já estamos quase em 2024 e muita gente ainda pensa que questões ambientais e de direitos humanos tem lado. E vai piorar. As eleições presidenciais nos EUA vão ser uma das mais polarizadas da história, inflamando ainda mais opiniões divididas em temas como clima, gênero, raça, imigração, entre outros. Todos sairão perdendo.
COP no Brasil: Discussões Desfocadas: A realização da COP no Brasil em 2025 vai agitar todo mundo – governo, sociedade civil, imprensa, corporações – durante quase todo o ano de 2024. Mas no debate errado. O foco vai estar mais no evento do que em seu legado. Vamos gastar energia tentando impressionar e apresentar grandes conquistas passadas ao invés de criarmos algo duradouro para as próximas décadas.
Game Over para os Negacionistas (mas eles venceram): Os negacionistas do clima terão dificuldades para sustentar seus devaneios. As mudanças climáticas estão aí, visíveis e palpáveis. A conscientização aumentou após as ondas de calor de 2023, mas, infelizmente, tarde demais para evitar alguns impactos irreversíveis. Os negacionistas perderam, porém venceram.
O despertar dos Fundos de Pensão: Em lugares do mundo onde a pauta ESG amadureceu, foram os detentores de ativos (asset owners) que moveram capital para investimentos responsáveis, influenciando gestores de ativos (asset managers) e estes, por sua vez, as empresas. No Brasil, esse movimento é ainda muito tímido, quase inexistente. Mas em 2024, veremos o início de uma mudança. Ufa!
Efeitos Colaterais da Regulação: Com a Resolução CVM 193, o Brasil se tornou pioneiro ao adotar o padrão global ISSB de reporte de sustentabilidade: começa de forma voluntária em 2024 e vira obrigatório em 2027. Excelente! Mas com efeitos colaterais. O caminho escolhido reporta as informações de sustentabilidade das empresas e como tais assuntos impactam a empresa. O outro caminho era o da “dupla materialidade”, que também reporta como a empresa impacta o planeta, em seus múltiplos stakeholders. Em 2024, algumas empresas já vão começar a discutir a adoção do ISSB, reforçando a cultura do acionista (shareholder) em detrimento da do stakeholder, que é para onde deveríamos rumar.
A Agenda DEI (lamentaelmente) vai Enfraquecer: Queria ser mais otimista, mas a agenda de Diversidade, Equidade e Inclusão parece que vai perder força, apesar dos poucos avanços até então. Muitas empresas que saíram na frente parecem achar que já fizeram o suficiente. As que ainda não se mexeram sentem pouca pressão para mudar, e as que estão no meio do caminho parecem priorizar outras pautas, como o clima. As pautas não são excludentes e deveriam caminhar com o mesmo ímpeto. Uma pena.
Transição como Solução: A visão de que a melhor forma de lidar com questões climáticas é financiar o novo (energias renováveis) e excluir o velho (combustíveis fósseis, carvão, agro, etc) vai começar a mudar. Vai crescer a ideia de que a transição seja também um caminho, transformando os detratores do clima, em vez de apenas excluí-los.
Litigância Climática: Direito, Não Confronto: Apesar dos mais de 70 casos de litigância climática nos tribunais brasileiros, o tema ainda é tabu em muitos lugares: os que litigam são vistos como confrontadores, radicais ou baderneiros e o litigado como vítima. Isso vai começar a mudar. Os litigantes começarão, aos poucos, a serem vistos como necessários agentes de mudança, e os litigados como parte do problema, não vítimas.
E a Governança?: Em 2023, o caso Americanas acendeu o alerta para as empresas fortalecerem suas áreas de compliance: consultorias foram chamadas, pessoas foram contratadas, sistemas foram adquiridos. 2023 foi, então, um ano de transição e em 2024 o compliance estará a todo vapor... até que, em um ou dois anos, na hora de revisar o orçamento, alguns administradores passem a crer que a estrutura ficou grande demais e, como de costume, desmontem grande parte dos avanços e voltem ao ponto de partida; Tal qual ocorreu na sucessão de grandes escândalos de governança do passado.
Com a esperança de estar completamente enganada e que a agenda avance muito mais, deixo meus votos de um 2024 cheio de propósito!